segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sérgio Ferreira Borges


Sérgio Ferreira Borges
70 anos é o Mr.Simpatia. E adora relembrar 
os velhos e bons tempos dos pastos com 
vaca brava, pé de pitanga, pequi  e jatobá, 
footing na Praça XV, Baile Branco. 
Craque na pescaria, no futebol e no vôlei, 
vive ganhando medalhas e 
não troca Ribeirão por nada


Esportista e dançarino


Nasci em 1942, num sítio chamado Cortado, no município de Guará. Ficava  perto de São Joaquim  da Barra, a 4 quilômetros de um pequeno povoado chamado Pioneiros. Ali  cursei o primário e no ginásio em São Joaquim, meu irmão ganhou o apelido de Bacurizão e eu de Bacurizinho.
Diariamente percorríamos 8 km para ir à escola. Ao retornar para casa, havia a época das frutas do cerrado, como gabiroba, pitanga, marmelo, jatobá, marôlo, pequi, mamica de cadela. Conviver com o medo também fazia parte do aprendizado. Investidas de vacas paridas, cachorro louco, cobras e outros animais peçonhentos faziam parte do nosso cotidiano. Tudo compensado pelas amizades e o contato com a natureza- nascer da lua, por do sol, chuva fazendo soldadinhos ao bater em goteiras no chão, caçar vagalumes ao cair da noite, colher algodão, vento ondulando os arrozais, poeira vermelha por trás da qual nos escondíamos.
Comecei a trabalhar com 7 anos, coisa comum naquele tempo, o que fazia com que as crianças fossem mais responsáveis e respeitosas com o próximo, a natureza e as instituições.
Meus pais, Sabino e Laura, mal aprenderam a ler, mas acumularam um grau de experiência e sabedoria invejáveis. Ele, muito inteligente e empreendedor,  chegou a montar até uma mini-usina no sítio, o que abolia a lamparina e era usada para tirar água da cisterna e com isso montou uma fábrica de farinha de mandioca, onde toda a família trabalhava.
Dona Laura gerou 5 filhos, chegou a lavar roupa a um quilômetro de casa, além de matar porco e armazenas a carne em tachos de banha, cultivar horta, fabricar sabão, fazer queijo, manteiga e doces deliciosos que não estragavam apesar de não termos geladeira. Sem contar as aptidões médicas dela que curava usando produtos naturais, aplicava injeção e fazia parto.
Em 1958, quando eu tinha 16 anos, mudamos para Ribeirão. Fomos morar numa casa na Luís da Cunha com a Castro Alves, quase à sombra da já famosa Cia Cervejaria Antárctica. Naquela época, carro não era acessível a operários. Assim, quase todo mundo andava de bicicleta, o veículo usual dos empregados, que lotavam as ruas do bairro nos horários de entrada e saída da fábrica.
Lembro do toque da sereia das cervejarias Antárctica e Paulista nos horários principais, ouvidas até os limites da então pequena cidade. Também logo ali, na divisa da vila com o centro ficava a estação ferroviária, a Mogiana, uma das principais responsáveis pela pujança da nossa região. A cancela controlava o trânsito a cada passagem das máquinas ou trens de ferro.
Na Luís da Cunha tinha a padaria dos Irmãos Crispim, na esquina da Praça Coração de Maria, com a igreja do mesmo nome. Nessa padaria, as famílias se abasteciam com quitutes e um pão “bengalão”, quentinho que até derretia a manteiga. A praça era o ponto de encontro para quase tudo, de lazer a casamentos. Quando eu cursava o ginásio Santos Dumont, por volta de 1960, a Luís da Cunha não ia além da escola. O resto era pasto, com bois, cavalos e chácaras. O problema era o cuidado para não pisar no estrume fresquinho. Existia também um riacho represado que formava um poço que a garotada curtia como piscina.
Na Jerônimo Gonçalves os troncos das palmeiras imperiais escoravam feixes de varas pra pescar, vendidas aos amantes da pescaria. As muretas de proteção às margens do rio ficavam ladeadas de pescadores tentando capturar lambaris, mandis, chorões e bagres, enquanto meninos mais arrojados desciam os paredões de pedra para meter as mãos nas locas e pegar cascudos ou cágados.
Logo ali, entre as ruas Duque de Caxias e Mariana Junqueira, havia o velho Cine Avenida, frequentado pela garotada e por pessoas mais pobres. Em vez de poltronas havia cadeiras de madeira unidas por ripas. Sempre que apareciam alguns trocadinhos, eu e meu irmão Cláudio íamos curtir um cineminha.
Concluído o segundo grau e já trabalhando num escritório, me matriculei no curso de Contabilidade do Moura Lacerda e a vida de bairro foi trocada pela Praça XV com o Teatro Pedro II, a Fonte Luminosa, em volta da qual a mocidade buscava sua “alma gêmea” e o já famoso chopp do Pinguim, Os edifícios do então Hotel Umuarama, na São Sebastião e Diederichsen eram os mais imponentes da cidade.
Ainda me lembro que a rua General Osório era por onde os blocos carnavalescos passavam , os carros enfeitados no carnaval rumavam no sentido do que hoje é a avenida Independência. A rua ficava tomada por serpentinas, confete, com o povo cantando e brincando em perfeita harmonia.
Ia-se muito também ao Bosque Municipal, com entrada principal naquela época pela rua Tamandaré. Logo à direita da entrada tinha um bambuzal sob o qual havia uma pista de bocha muito concorrida. Mais a frente tinha os animais, o aquário, o restaurante conhecido por suas noitadas dançantes.
Outro orgulho que tínhamos em Ribeirão era a Faculdade de Medicina da USP. Além dos pesquisadores e estudantes de primeiro time, a Medicina ainda patrocinava o inesquecível Baile Branco, esperado por todo mundo lá pela década de 60. Lembro que uma vez, no final do baile, dei carona para 11 moças, todo orgulhoso do meu primeiro carrão, uma perua DKW.
Bons momentos também eu vivi no Clube Palestra Itália, onde entrei com 17 anos como dependente do meu pai. O clube tinha sido reativado somente com as piscinas. Depois vieram as quadras e o campinho de futebol, onde desenvolvi grande parte das minhas habilidades futebolísticas, completadas no Juventus, um clube com sede no Bar do Juca perto da avenida Nove Julho. Ali fui convidado para jogar no Comercial. E no Juventus foram revelados craques como Sócrates, Carlos Cesar e Leão.
Bons tempos
Mais tarde, trabalhando num banco, fui promovido, mudei-me para São Paulo e lá fiquei até me aposentar. Mas nunca me esqueci da querida Ribeirão, principalmente dos grandes amigos e das pescarias no Rio Pardo, onde continuei a pescar depois de voltar pra cá e relembrar os tempos de sítio.
Frequentando um grupo de terceira idade, integrei a equipe de vôlei e já conquistamos muitos troféus. Sou um homem feliz e não tenho do que me queixar. Imaginem que já fui eleito até Mr. Simpatia!

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