segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sebastião Cunha

Ele garante que é sobrinho-neto de um dos 
antigos reis do café, o poderoso Coronel 
Joaquim (Quinzinho) da Cunha. E até conta a 
história com detalhes. Aos 81 anos, 
Sebastião Cunha é cheio de atividades e 
tem muitas outras lembranças pra contar.


Esquadrias e Política

Eu nunca soube direito coisas sobre minha família. Só conheci um avô paterno. Há pouco tempo, porém, lendo livros e jornais da época, descobri muita coisa sobre a família Cunha. Os primeiros vieram de Portugal – eram três irmãos e foram para Minas Gerais, na região de São João del Rey, perto do Rio da Morte, onde exploraram ouro, por volta de 1700.
Muito mais tarde, seus descendentes vieram parar em Ribeirão, primeiro na região de São Simão para onde trouxeram criação, entrando na região de Santa Rita, porque até então Ribeirão nem existia. Acabaram tomando posse de terras por aqui, desde o rio da Onça até Sertãozinho .
Eram três: Emerenciano Alves da Cunha, Maximiliano (pai do Quito Junqueira) e Luís da Cunha (que foi marido da dona Iria). Um deles era caçador. Aqui plantaram café e foram trazendo parentes de Minas onde os Cunha já haviam começado a casar com os Junqueira.
Meu avô, José Saturnino da Cunha, é descendente desse povo e irmão do Coronel Quinzinho. Mas não sei como ficou pobre. Quinzinho morreu aqui mesmo 1932 e meu avô foi para a cidade de Taiuva, onde passou a viver e morreu lá.
Eu, então, nasci em Taiúva, em 1931, e trabalhei na roça com meu pai dos 7 aos 17 anos. Aos 12 anos também tocava trombone e pistão na banda da cidade. Me apaixonei perdidamente por uma menina chamada Elídia, mas quando ela me falou que não ia casar com moço da roça, saí andando por esse mundo afora. Larguei tudo, peguei o trem e pensei  “até onde ele for, eu vou junto”. Ele foi até Morro Agudo.
Nunca tinha saído da roça e foi naquela cidade que aprendi o ofício de ferreiro e arrumei meu primeiro emprego em Pontal, como auxiliar de ferreiro. Gostava muito daquela vida, e foi lá, tocando numa festa, que conheci minha futura esposa, Juvenir. Casei com 22 anos, depois de ter trançado por várias cidades vizinhas procurando ganhar melhor na profissão.
Nos anos 60, com nosso filho, viemos para Ribeirão, que já era uma cidade próspera, mas muito menor e mais sossegada do que é hoje. Ainda se andava sossegado nas ruas. Só existiam os bairros mais antigos como a Vila Tibério, os Campos Elíseos, a Vila Virginia, o Centro, Higienópolis, por aí. E as coisas ainda eram na confiança- caderneta na venda da esquina porque ainda não tinha supermercado, shopping essas coisas. E a maioria das pessoas se conhecia.
Aqui montei minha própria oficina de esquadrias metálicas que, na época, eram uma novidade. A oficina era na rua Anita Garibaldi e só trabalhávamos eu e um ajudante. Fazíamos venezianas, portas, grades – a primeira grade alta com ponta em lança da cidade fui eu que fiz. Até então ninguém tinha grade alta em casa. Eram grades baixinhas, com portão pequeno e a gente podia ver os jardins. Com o tempo, todo mundo foi subindo as grades.
Foi na minha oficina própria que cresci profissionalmente e pude ir fazendo um pé de meia. A clientela ia aumentando e eu conhecendo mais gente. Fiz também a primeira casa do Jardim Mosteiro(que na época era um bairro novo). Eu e os pedreiros. E moro lá até hoje.
Sempre gostei de política. Tinha sido presidente do Partido Trabalhista Brasileiro em Taiuva. Aqui conheci o Gasparini e virei seu cabo eleitoral. E, modéstia a parte, eu era bom- sabia falar e acho que ajudei a reeleger o Gasparini. Fui candidato a vereador três vezes – uma com ele e duas com o Marcelino Romano.
Depois de trabalhar  muito e formar meu filho engenheiro resolvi me aposentar. Pra continuar teria que atualizar o maquinário, investir muito. Achei melhor parar em 88.
Mas tenho uma vida pra lá de boa. Aliás, bastante agitada. Moro com a mulher o filho, a nora e os netos – todos na minha casa. Mas faço meu próprio café da manhã, 2 horas de exercício, leio a Bíblia e o jornal A Cidade inteiro. E ainda participo de vários grupos de coral e teatro. Ou seja, ando tão ocupado que hoje não tenho tempo nem de trocar uma torneira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário