segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ana Curilofo


Com 76 anos, Ana Curilofo é conhecida por todo 
mundo como Xuxa, talvez por parecer mais uma alemã. 
Mas sua ascendência é italiana e ela 
mostra que na vida o que vale é força, 
perseverança e alegria


Campeã na vida e nas quadras

Minha história começa muito longe. Meu avô era da Itália e veio para o Brasil como milhares de imigrantes, na esperança de ganhar dinheiro. Antes de vir para cá, ele se casou e deixou minha avó na sua pequena aldeia para tentar sozinho a sorte na América. 
Somente depois de comprar umas terras, voltou para a Itália para buscar a esposa. Só que minha avó ficou grávida e eles não puderam viajar, porque a viagem era de navio e demorava seis meses para chegar aqui. Dessa forma, meu pai nasceu na Itália e só veio para o Brasil com seis meses.
Aqui, o casal construí u  uma casa, onde nasceram mais 5 filhos. Aos poucos todos os seis se casaram. Quando meu avô morreu, meu pai comprou a parte de seus irmãos nas terras que ficavam na divisa entre Sertãozinho e Ribeirão Preto,- onde um córrego dividia as duas cidades - e começou a cultivá-las.
Ele e minha mãe tiveram 11 filhos, 9 mulheres e 2 homens. Santa morreu com seis meses e tinha ainda João Batista, Laura, Sebastiana, que morreu com 19 anos, aos 6 meses de casada, Izaura, Aparecida, Carlos, Batista, Palmira, Maria e eu, Ana.
Nasci em 1936, no sítio. Sou uma caipira nascida e criada na roça. Dos 11 aos 24 anos a gente morou na fazenda do doutor Isaías Ferreira, em Sertãozinho. Sempre tive o sonho de ser da Marinha, não sei por que, já que  nunca tinha visto o mar, nem pessoalmente nem pela tv ou pelo cinema que eu também não via. Ou melhor, via só uma vez por ano, em Cruz das Posses, quando a gente assistia a Paixão de Cristo num armazém improvisado., Mas assim mesmo ficava sonhando com a marinha, os navios, o uniforme, o marzão. Não sei de onde saiu isso, mas era um sonho.
Fui a última a casar, com 24 anos, com um vizinho de sítio. Foi só pular o córrego e estava no município de Ribeirão Preto, onde passei a morar no sítio do meu sogro, com meu marido, Paulino Curifolo.
Quem fez serviço de roça como eu, não tem medo de nada- arei terra com o burro puxando o arado, plantei café, milho, arroz e pra cortar arroz ninguém melhor que eu - cortava com ferro e era contratada pra “puxar eito” porque era mais rápida e esperta do que os próprios homens, trabalhava mais do que eles. Eles me punham na frente, como uma isca, pra eles tentarem me acompanhar.
No dia 28 de maio de 1962 nasceu minha filha e quando  uma irmã minha morreu peguei suas duas filhas pra criar, uma com 10 anos e outra com 1 ano e 10 meses. Também fazia costuras pra fora pra ajudar meu marido que, já na cidade, tornou-se motorista de taxi com ponto no Ipiranga, mas teve que ficar parado um ano depois que atropelou uma criança e ficou sem carta durante seis meses.
Um carroceiro levava minhas costuras para as feiras e eu ia de bicicleta para todos os bairros da cidade, vendendo. Acabei me aposentando como costureira, depois de ficar viúva, aos 61 anos.
Faz 13 anos que trabalho como voluntária no núcleo da Terceira Idade dos Campos Elíseos. Dou aula de pintura em tecido e bordado em vários lugares, faço Coral e Teatro e joguei Volei dos 50 aos 70 anos. Com 60 participei de um campeonato. Dizem que eu jogava bem, no ataque e na defesa. Comecei essa história de esporte de brincadeira, com umas amigas do núcleo, depois ficou de verdade, com um professor de ginástica. Fomos para a seletiva regional da terceira idade de Sertãozinho e trouxemos um troféu para Ribeirão, uma taça enorme.
Tenho dois netos e uma neta, a Francine, que é o retrato da avó. Faz todo tipo de artesanato e tem um salão de beleza. Trabalha na minha casa, dei a sala e o alpendre pra ela. A outra neta, Flávia, trabalha com os pais, que têm um atacado de cereais na Lagoinha e o neto, Fernando, trabalha numa fábrica de correntes e também mora comigo, com a mulher e dois filhos. Todo mundo trabalha muito e tem uma vida digna. Por isso sou uma mulher feliz, porque toquei minha vida, construí uma família e gosto de todo mundo- criança, velho, moço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário